Bardon & C. Jung: O Desenvolvimento Mágico-Espiritual e da Consciência.

Muitos são aqueles que buscam o livro Magia Prática: O Caminho do Adepto esperando fórmulas mágicas secretas e poderes de domínio global, após lerem o livro estes são os primeiros a desistir. Outros sabem que Magia, em prol da própria evolução, não envolve o domínio do outro e sim de si mesmo, estes sentem imensa euforia após vislumbrarem o treinamento descrito no livro, mas se faltar vontade desistirão. O terceiro nicho de leitor acompanha o segundo, mas estes possuem consciência rasa e cheia de pre-coneitos impedindo a capacidade da mente, de processar conhecimentos desconhecidos e elevados, fluir. Carl Jung em O Segredo da Flor de Ouro disserta, à Luz da sabedoria Chinesa, maravilhosos comentários que se adequam não apenas ao iniciante, mas também ao praticante que está encalhado em algum Grau mesmo possuindo a capacidade psíquica de avançar. 



“Tal circunstância garante uma saúde anímica primitiva, mas pode transformar-se em desadaptação, se ocorrerem situações que exijam um esforço moral mais alto. Os instintos bastam apenas para um tipo de natureza que permanece mais ou menos invariável. O indivíduo que depende de um modo preponderante do inconsciente, e é menos propenso à escolha consciente, tem a tendência para um acentuado conservadorismo psíquico. Este é o motivo pelo qual os primitivos não mudam no decurso de milênios, sentindo medo diante de tudo o que é estranho e incomum. Tal característica poderia levá-los à desadaptação e, portanto, aos maiores perigos anímicos, isto é, a uma espécie de neurose. Uma consciência mais elevada e mais ampla, que só surgirá mediante a assimilação do desconhecido, tende para a autonomia, para a revolta contra os velhos deuses, os quais não são mais do que as poderosas imagens primordiais a que a consciência se achava subordinada. Alcançando então a liberdade, poderá romper as cadeias da pura instintividade e chegar a uma situação de atrofia do instinto, ou mesmo de oposição a ele. Esta consciência desenraizada, que não pode mais apelar para a autoridade das imagens primordiais, acede às vezes a uma liberdade prometéica, a uma hybris sem deus. Ela plana sobre as coisas e sobre os homens, mas o perigo da mudança de atitude aí está, não para cada indivíduo isoladamente, mas para os mais fracos da sociedade, no plano coletivo, que serão agrilhoados de modo também prometéico ao Cáucaso do inconsciente. O sábio chinês diria, nas palavras do I Ching, que quando yang alcança sua força máxima nasce em seu interior a força obscura do yin, pois ao meio-dia começa a noite, e yang se fragmenta, tornando-se yin - Carl Jung.”

Nós, aspirantes a Magos – manipuladores dos Elementos e buscadores das Leis Universais – temos que estar sempre aprimorando a consciência e a moralidade tendo como referência não a ética e a moral humana, e sim a Divina – qual enxerga tudo e todos como Um, e além: interpreta uma vida não isoladamente, mas como parte de uma teia que influência os acontecimentos do Universo. O filtro da consciência não deve ser austero e rígido, temos sim que evitar as esquisitices, as ilusões e as fantasiais, mas se este filtro impede o fluir e a expansão do Akasha, então ainda falta e muito a ser transmutado através, neste caso, da compreensão. É neste ponto que o Grau I possui um elo direto com o Grau II: a consciência é levada a evolução por intermédio, primeiro da busca e identificação pelos aspectos positivos e negativos da alma, e em seguida, pela transmutação dos negativos para os positivos. Carl Jung continua:

“Esta conversão do próprio ser significa uma ampliação, elevação e enriquecimento da personalidade, uma vez que os valores iniciais sejam mantidos ao lado da conversão, caso não sejam meras ilusões. Se não forem mantidos com firmeza, o indivíduo sucumbirá à unilateralidade oposta, caindo da aptidão na inaptidão, da adaptabilidade na inadaptabilidade, da sensatez na insensatez, e mesmo da racionalidade na loucura. O caminho não é isento de perigo. Tudo o que é bom é difícil, e o desenvolvimento da personalidade é uma das tarefas mais árduas. Trata-se de dizer sim a si mesmo, de se tomar como a mais séria das tarefas, tornando-se consciente daquilo que se faz e especialmente não fechando os olhos à própria dubiedade, tarefa que de fato faz tremer.”



“O que fizeram tais pessoas para levar a cabo esse processo libertador? Na medida em que pude percebê-lo, elas nada fizeram (A ideia taoística da ação através da não-ação) mas deixaram que as coisas acontecessem. Assim, permitiram que a luz circulasse de acordo com sua própria lei, sem abandonarem sua ocupação habitual. O deixar-acontecer na expressão de Mestre Eckhart, a ação da não-ação foi, para mim, uma chave que abriu a porta para entrar no caminho: Devemos deixar as coisas acontecerem psiquicamente. Eis uma arte que muita gente desconhece. É que muitas pessoas sempre parecem estar querendo ajudar, corrigindo e negando, sem permitir que o processo psíquico se cumpra calmamente. Seria muito simples se a simplicidade não fosse verdadeiramente a mais difícil das coisas! - Carl Jung”

Se quiseres completar o corpo diamantino sem efluxões
Deves aquecer diligentemente a raiz da consciência e da vida.
Deves iluminar a terra bem-aventurada e sempre vizinha
E nela deixar sempre escondido teu verdadeiro eu.

O Hui Ming Ging

“Estes versos contêm uma espécie de indicação alquímica, um método ou caminho para a geração do "corpo diamantino", que é mencionado em nosso texto. Para isso, é necessário um "aquecimento", ou seja, uma elevação da consciência, a fim de que a morada da essência espiritual seja "iluminada". Assim, pois, não é apenas a consciência, mas também a vida que deve ser elevada ou exaltada. A união de ambas produz a "vida consciente". Segundo o Hui Ming Ging, os antigos sábios conheciam o modo de suprimir a separação entre consciência e vida, pois cultivavam as duas. Deste modo o "schêli (corpo imortal) se funde" e se "completa o grande Tao - Carl Jung”

“Dizendo isso, o estudante deve manter em mente uma coisa: a meta última de todo o treinamento de Bardon em seus três livros é a evolução espiritual (expansão da consciência e do espírito divino) e não apenas desenvolvimento espiritual (expansão do corpo astral e o desenvolvimento de habilidades mágicas). Se um mago tem a evolução ele terá também o desenvolvimento, mas um mago que tem todo o desenvolvimento do mundo pode não ter uma gota de evolução espiritual. A consciência é a coisa mais importante. Eu não posso enfatizar mais do que isso! Não se torne um feiticeiro degradado! Erga-se e torne-se um Homem-Deus, em harmonia perfeita com o universo e com o espírito. Apenas então esse círculo de nascimento e de morte chamado reencarnação será superado. Apenas então você será uma alma liberta. – Veos”

Bibliografia

WILHELM, RICHARDAutor & JUNG, CARL GUSTAV, O Segredo da Flor de Ouro. 15. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

COMENTÁRIOS SOBRE INICIAÇÃO AO HERMETISMO de FRANZ BARDON - Graus I a VIII - por Chris Murphy (Fra. Veos).

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